segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


O melhor do fim do ano é que os dias estão, outra vez, a crescer. Por isso, mesmo com frio e chuva, vai haver mais luz daqui até Junho. E a luz faz muita falta.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uma imperceptível alteração no trânsito sugere que as festas de Natal se aproximam. Apesar de, tecnicamente, ainda faltarem um dez dias, nota-se que já está tudo a fazer contas às rabanadas.
Somos seres de gostos simples. Ou seríamos, se não fosse uma invenção demoníaca chamada marketing.
A resolução da crise económica não está em arranjar comida para todos. Está em esfolarmos voluntariamente a pele para comprar o que, em boa verdade, não passa de lixo inútil. Os políticos chamam às medidas de coerção psicológica para que tal aconteça estimular o consumo.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os mais novos não imaginam o que é ser velho. É algo que só se entende ao ver o ar de espanto nos olhos dos velhos que, um dia, já foram novos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

As figuras que mais aparecem hoje nos telejornais: Paulo Bento e Mário Nogueira. Não devem falhar um desde há muito tempo.

Felizmente temos a BBC e a CNN para provar que há vida para além de Portugal.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Parece que a Byblos vai abaixo por falta de clientes, localização, etc.
Sejam quais forem as razões, dói sempre ver fechar uma livraria.

domingo, 16 de novembro de 2008

Novo sistema de música aqui ao lado, em modelo podcast. Cada nova entrada terá provavelmente a ver com cada novo post, mas tem a vantagem de funcionar como arquivo de coisas anteriores.
A música é demasiado importante para ser deixada ao acaso.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Passei hoje algum tempo em transportes públicos. Raramente os uso. Não há mérito nem demérito neste facto, é apenas um facto. Levei um livro e li todo o tempo. Deu para alguns capítulos. À minha volta a esmagadora maioria limitava-se a olhar o vazio. Alguns mais jovem demoliam os tímpanos com phones. Na minha estimativa perdem-se muitos milhões de horas em transportes públicos que poderiam ter um excelente aproveitamento: ler.

A culpa não é toda das pessoas, que a cultura de imbecilização vigente ajuda, e muito. Mas a culpa também é delas.
(E não me digam que é do preço dos livros. Quantos ali dentro terão plasmas em casa? Eu não tenho. Nem lhe sinto a falta).

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Uma profissão bem paga e satisfatória intelectualmente.
Uma profissão mal paga e muitíssimo mais satisfatória intelectualmente.
Impossível conciliar as duas sem comprometer a sanidade mental.
Há escolhas complicadas. Se bem que a crise na banca aponte o caminho racional.
O problema é a provável sobrestimação da racionalidade.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Dois cães. Um dorme e sonha que corre, pelo menos a avaliar pelos movimentos sincopados das patas. O outro chega e tenta colaborar pondo as patas e o focinho no teclado.

O trabalho nocturno não tem de ser sempre solitário.

sábado, 27 de setembro de 2008

Praticamente impossível passar por aqui nos últimos tempos. Falta de tempo, também, mas sobretudo a consciência de que, para escrever algo legível por outros, o que se tem a dizer vale a pena ser lido. E não tenho achado que o que me vem à ideia ou o que vou fazendo mereça divulgação ou comentário, para além da conversa de refeição no círculo familiar. Se calhar são expectativas exageradas e preciso de descontrair. Logo se vê. Entretanto vou passando discos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

First beam in the LHC - accelerating science

Geneva, 10 September 2008. The first beam in the Large Hadron Collider at CERN1 was successfully steered around the full 27 kilometres of the world’s most powerful particle accelerator at 10h28 this morning. This historic event marks a key moment in the transition from over two decades of preparation to a new era of scientific discovery.

A importância deste momento, apreendida por poucos, só será reconhecida daqui a muito, muito tempo.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Um insecto terá estado na origem do encerramento preventivo dos blocos operatórios do Hospital dos Lusíadas, em Lisboa. Uma precaução desta natureza poderá parecer estranha a olhos mais desavisados. Na verdade revela atenção e rigor, e fica bem aos responsáveis do Hospital. Que outros lhe sigam o exemplo e não tenham medo de actuar quando a segurança dos pacientes se justifique.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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Vinte anos depois do incêndio do Chiado ouço múltiplos opinadores referindo que o Chiado já não é o que era e que se perdeu o seu espírito. Concordo. O Chiado, hoje, está incomparavelmente melhor que há vinte anos. Excluindo as vidas destruídas e o espólio insubstituível da Valentim de Carvalho, pouco mais se terá perdido de relevante. Arderam sobretudo os Grandes Armazéns do Chiado e o Grandela, duas confrangedoras imitações dos grands magasins franceses: pífios e mofentos, em perfeita degradação à época, se não tivessem ardido teriam acabado tipo Martim Moniz ou vendidos a alguém que os arrasasse por dentro.

Hoje circula-se por um Chiado cuja remodelação apenas pecou pelo arrastar de pés. E os que hoje dizem que o Chiado já não é o que era, dizem-no sobretudo porque, sem darem por isso, envelheceram. Foram ultrapassados pelo tempo, num Chiado no qual já não se reconhecem, onde fazem a sua vida as gerações para quem o incêndio é uma nota de rodapé da História.

sábado, 23 de agosto de 2008

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Tempo de recomeçar os trabalhos de Sísifo.

Os Jogos Olímpicos foram um bom entretenimento - não mais que isso devem ser considerados - e passaram à história, com glória para os vencedores, honra para os vencidos e a ignomínia para os batoteiros que foram apanhados. Os Jogos não são muito importantes: têm nem mais nem menos a importância que lhes atribuirmos.

A morte inesperada e violenta perto de nós é sempre mais pesada que a morte distante, sobretudo se forem brancos, de média burguesia e em férias de Verão, ou seja, aqueles com os quais nos identificamos. Bem diverso da morte de afegãos, indianos, pretos e quase brancos quase pretos de tão pobres, que esses não têm nada a ver connosco. Mas a morte é sempre importante, por definitiva.

Hoje continuamos.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

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As férias são uma necessidade e não um luxo. Não são a diversão por decreto, ou uma qualquer joie de vivre imposta por revistas da moda e cronistas in, de inúteis, que vivem de convencer os outros da existência de uma vida realizada ao virar da esquina ou no destino do próximo voo. Falar de silly season é um erro perigoso: esta é a época em que, exaustas e mortas por fugir para qualquer lado, as pessoas estoiram orçamentos nas maiores atrocidades e cometem os maiores erros dos quais, em Outubro, se arrependem amargamente. As férias não são, ou não deveriam ser, dias e noites a queimar os miolos e o canastro numa correria alucinada a ver quem se divertiu mais. Devem, ou deveriam ser, uma pausa na vida brutal e exigente que levamos, que sempre levámos e que sempre levaremos. Uma reposição nas reservas de capacidade física e de lucidez.

Escrevia há muitos anos Vasco Pulido Valente, uma das cabeças mais lúcidas de que tenho memória, que nunca tinha percebido aquela coisa de “dar praia às crianças”. Subscrevo integralmente. E é também por isso que irei para Norte, esse Norte português assombroso, nesta época povoado por portugueses de torna-viagem, que os outros rumaram, zombificados, para os cemitérios de betão com forro de plástico que cobrem o Algarve.

A quem ficou por aqui, deixo no gira-discos música para fechar os olhos e descansar. Imaginem o fundo do mar. É mais real este mar que aquele que vendem as agências de viagem.

Até daqui a duas semanas.

sábado, 26 de julho de 2008

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Nota ao post anterior: não tenciono pôr nenhuma música deste disco no gira-discos aqui ao lado, pelo menos durante muito tempo. Comprem-no, que o músico merece.

domingo, 20 de julho de 2008

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Foto: Isabel Pinto

Quando fui à procura do duplo CD de António Pinho Vargas - Solo - à FNAC, no fim de semana de lançamento, estava esgotado. Consegui tê-lo alguns dias depois. Escutá-lo foi voltar a uma casa nunca esquecida e guardada na memória.

Pinho Vargas não perdeu tempo durante estes anos. Compôs e estudou. Estudou muito. Voltar a tocar estas peças, hoje, reflecte esse amadurecimento. Nota-se no despojamento e simplicidade conseguida. Nota-se muito bem na noção dos limites. Pinho Vargas sabe até onde pode ir, nomeadamente quando improvisa. Sabe que raramente existem obras acabadas, daí intitular os discos "Imperfeições". E sabemos nós que as obras imperfeitas podem ser belas, como estas peças são - incrivelmente belas.

Recordo o concerto dado por Pinho Vargas na Culturgest há uns anos para comemorar, salvo erro, uns vinte e cinco anos de carreira. No momento mais esperado, a peça Tom Waits, o acompanhamento reduziu-se a Rui Júnior, descalço, acompanhando a peça com uma pequena caixa de areia.

Neste disco nada mais há que Pinho Vargas e um piano. Os temas surgem límpidos; os improvisos, contidos. Pinho Vargas sabe que Keith Jarrett há apenas um e, evocando esse estilo, não insiste excessivamente. Nem precisa.

Sabedoria, clareza, contenção. Apenas música, tanto quanto humanamente possível, perfeita.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Governo e PSD andam entretidos a discutir modelos de família. Estão deliciados apesar da irrelevância evidente da discussão - ambos sabem que cada um em sua casa continuará a fazer como lhe aprouver. Enquanto discutem o tema, impantes, passam ao lado daquilo que verdadeiramente conta mas que não têm, nem um nem outro, capacidade de resolver: a economia.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

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Ontem, Domingo, curta deslocação ao Sul. Sinais dos tempos:

1) Às oito e meia da manhã, monumental fila de carros na 25 de Abril direita à Costa da Caparica. Férias? Pois.

2) Algures por alturas do Alentejo, grande cartaz da Brisa proclamando "VALE DOS PINHEIROS". Até onde a vista alcançava, sobreiros.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

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Fui meter combustível no carro depois das 11 da noite. Bomba completamente cheia de gente, fazendo fila. Não estava previsto aumento à meia noite. Um dia perfeitamente incaracterístico - uma terça feira. Poder-se-ia admitir que é princípio do mês, mas os próprios empregados da etação estavam espantados com aquele afluxo de clientes que, diziam, tinha ocorrido subitamente, sem explicação, sem aviso, sem qualquer fenómeno colectivo que o justificasse.

Caos e complexidade. Quem não compreender estes conceitos ficará muito, cada vez mais, confuso.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Está a terminar um período de discussão pública sobre documentos produzidos pelas denominadas medicinas complementares e alternativas no sítio da Direcção Geral da Saúde, com vista a uma futura regulação. É um bom momento para recomendar algumas leituras, nomeadamente o recentíssimo

Suckers - How Alternative Medicine Makes Fools of Us All
Rose Shapiro
Harvill Secker, Fevereiro de 2008

disponível através da Amazon para quem quiser. 258 páginas e algumas centenas de referências bibliográficas documentando o que é escrito.

Transcrevo os primeiros parágrafos do capítulo 10 - The healthy sceptic

There are two definitions of the word 'sucker' I had in mind when I thought about the title of this book. Sucker: one who lives at the expense of others, and sucker: a gullible or easily deceived person. The growth of alternative medicine in the modern era has depended on the existence of both kinds of sucker.

And when I suggest that alternative medicine makes fools of us all, I am thinking about not only those who practise alternative medicine and those who use it, but also those of us who simply let it carry on unchallenged. There is a pervasive tolerance of complementary and alternative medicine which allows it to flourish. I believe this indulgent laissez faire approach is no longer acceptable and needs to change. The growth of CAM [complementary and alternative medicine] matters - it trades in false hope, it is bad for our health, it threatens our intellectual culture, it wastes public money and it undermines some of our most important and valued institutions. Those who promote it and the junk science that all too often accompanies it, are, to quote Raymond Tallis, 'enemies of mankind's best hope for a better future. In short, enemies of mankind'."

A luta contra o obscurantismo, a superstição, a crendice, a ignorância e a vigarice continuam.

(Com um agradecimento ao Jansenista por ter chamado a atenção para este livro).

sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Início de Verão. Calma? Talvez, mas improvável. Calor? Talvez e provável.
As férias tenderão, progressivamente, a ser um privilégio de poucos. Sobram os amigos. Este "sobram" minimiza aquilo que, afundados em folhetos prometendo o paraíso em resorts todos iguais, tendemos a esquecer. E que é o que, afinal, conta.

domingo, 15 de junho de 2008

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Terça feira última, no Mosteiro de Alcobaça, quatro homens mostraram porque motivo a voz humana nua prevalecerá sobre o ruído e a confusão.

domingo, 8 de junho de 2008

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Não ligo a futebol. Mas um fim de tarde na Ribeira com temperatura amena, Gaia iluminada pelo sol poente e o rio tranquilo, uma esplanada, a companhia certa, cerveja gelada e uma pequena multidão frente do écran gigante a aplaudir... é qualidade de vida.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

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O país atravessa uma crise económica. Mas dois dias do Rock in Rio esgotaram, com bilhetes a 53 euros.
Curiosa crise, esta.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

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She was that woman who always seemed to be passing by on days when the shade was green under the tunnels of oaks and elms in the old town, her face shifting with the bright shadows as she walked, until it was all things to all people. She was the fine peaches of summer in the snow of winter, and she was cool milk for cereals on a hot early-June morning.
Ray Bradbury - A story of love

sexta-feira, 30 de maio de 2008

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Combustíveis e alimentos sobem. Sinais separatistas reforçam-se um pouco por todo o lado. A rede global reforça a imagem mútua dos que têm e dos que não têm. Os que não têm, um destes dias, vão querer ter. A desagregação é tendencial, ao mesmo tempo que os gritos sobem de tom.
Guerras começaram por menos. Sempre houve a esperança de que, de cada vez, houvesse juízo. Nunca houve.
Preparemo-nos.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

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Um problema sério da vida ocidental é a ausência de espaços de silêncio.

sábado, 24 de maio de 2008

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Fragmento de imagem de O sacrifício - Andrei Tarkovsky, 1986

Subscrevo isto integralmente. Mas digo mais: a frase de Tarkovsky citada é, igualmente a tese central de O sacrifício.
Haja esperança.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Nas trincheiras (2)

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"[...], preciso muito de falar consigo!"
"Ok. Venha daí."
"O quê? Agora?"
"Sim, claro! Se precisa, venha, que eu arranjo aqui um espacinho, apesar de isto estar cheio como um ovo..."
"Huh... não poderia ser antes na próxima sexta feira?"

segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Fala-se de setenta e um mil mortos. De diferente o facto de, antigamente, estas coisas acontecerem longe. Um milhão de mortos na China, antigamente era apenas um número. Hoje estão na nossa casa, ao vivo e a cores. E em muitos perpassa uma expressão de choque, ao perceberem finalmente que os mortos soterrados e as famílias que os buscam são gente exactamente como cada um de nós.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

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O Primeiro Ministro terá decidido deixar de fumar após o episódio das viagens entre Lisboa e Caracas.
Acho bem. Há problemas para os quais quase todas as soluções são boas. Recomendo assim uma ponte aérea entre Lisboa e Caracas. Apenas para fumadores.
(Era bom que fosse assim tão fácil).

domingo, 11 de maio de 2008

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O assassinato de carácter continua em moda como, aliás, em todas as épocas. Servido por jornalistas de serviço, homens de mão, eminências pardas e, mais recentemente, blogueiros anónimos. Nada de novo, repito, a não ser a actualização das tecnologias. O fenómeno merece estudo usando métodos entomológicos, mas exige um estômago forte.

Isto foi apenas um desabafo. Desculpem.

sábado, 10 de maio de 2008

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Parte da manhã passada na Escolar Editora e na Byblos. Tenho saudades de encher a barriga de livrarias, de modo que optei por ir, em vez de procurar nos catálogos da net. Soube-me muito bem.
Uma diferença, contudo. Na Byblos algo me incomodava. De repente percebi que era a música. Note-se que gosto muito do que estava a tocar (Gotan Project) mas na Escolar havia silêncio. O silêncio de recolhimento das bibliotecas e salas de leitura clássicas. Esse silêncio faz-me falta.

O livro, esse, vou ter de o comprar pela Amazon.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Breve comentário a obras de Sir William Osler (Aequanimitas) e Saint-Exupéry (Cidadela) aqui.

domingo, 4 de maio de 2008

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Quarenta anos sobre o Maio de 68. Não vai haver paciência para tanto Cohn-Bendit e que tais, e para os inevitáveis desiludidos da vida que acham (acham sempre) que aquilo não deu em nada e esteve aquém das expectativas. Esquecem-se de que a vida, por definição, fica sempre aquém do sonho.

Chega de discursos nostálgicos da treta. O futuro faz-se hoje.

quinta-feira, 1 de maio de 2008


Foto: S., com telemóvel. 30/04/08

Monumental aula de guitarra eléctrica ontem à noite no Coliseu de Lisboa, a ser repetida a esta hora no Coliseu do Porto. Assistência claramente constituída por todos os guitarristas passados, presentes e futuros a sul do Mondego, que os que vivem a Norte estão lá agora. Joe Satriani tem um domínio do instrumento que raia a perfeição e, ainda por cima, diverte-se à grande com o que faz. Apresentou-se com uma formação simples: bateria, baixo e viola-ritmo a acompanhar. O baixista, a meio, deu um verdadeiro espectáculo a solo com um exercício de slapping perfeitamente endiabrado que levou a assistência ao telhado. Foram tocados os temas de que a assistência estava à espera e toda a gente saiu contente e a dizer coisas como "Este gajo é o maior! Brutal!" e afins. Duas horas depois já havia clips do concerto no YouTube, que dão uma razoável ideia de como correram as coisas (basta teclar "Satriani" e "Coliseu").

E contudo houve algum cansaço durante uma parte importante do concerto. A minha sensação é a de que, apesar do virtuosismo exibido, o modelo de rock praticado por Satriani e outros grandes da guitarra, herdeiros de Hendrix, Ritchie Blackmore e outras lendas, se está a esgotar. Estupendo como foi este concerto, fica a ideia de que o futuro, do ponto de vista musical, anda por outras paragens.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

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Estou cada vez mais convencido de que a depressão é uma doença física. Orgânica. Com uma causa física, orgânica. Tudo o resto serão apenas os gatilhos que a disparam. Deve ser por isto que uma psiquiatra amiga diz, com ar de desprezo meio a brincar meio a sério, que sou um organicista.
Prefiro aceitar que sou é ignorante. Sabemos muito, muito pouco.

domingo, 27 de abril de 2008

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Primeiro fim de semana de praia do ano, primeira fatalidade e mais alguns sustos avulsos. Como de costume clama-se por aumento da vigilância nas praias. Não ouvi uma só cabeça televisiva exigir mais educação cívica para a autoprevenção de acidentes. Somos um país em que a responsabilidade pessoal é substituída por múltiplos paizinhos e mãezinhas. Se calhar não é só cá que é assim, mas cá é. E é pena.

sábado, 26 de abril de 2008



Foto: S., com telemóvel. 25/04/08
O 25 de Abril de 2008 já passou. O país aproveita o calorzinho para uma primeira incursão balnear. Lisboa vista ontem de Almada estava, como de costume, a cidade mais bonita do planeta. As cidades, vistas de longe, são sempre mais bonitas.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Nas trincheiras

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Foto retirada daqui
Termo usado outro dia por um colega de ofício sobre a nossa faina. Hoje faina de dia inteiro, mas com a parte bonita de tarde: grávidas, bebés. Focos a fazer trucatrucatruca em barrigas a crescer. Bebés a esbracejar e os adultos a fugir dos jactos (in)esperados que apontam a batas e camisas. E mais umas coisas do género.
Chega-se ao fim do dia bastante estafado, mas sabe bem.

sábado, 19 de abril de 2008

quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Lá fora chove e venta como tudo. Passear o Óscar e o Fenix deixou-nos aos três, e ao patamar, ensopados e a precisar de um lençol para tirar a maior. Neste momento estão os dois enroscados: um no sofá, outro na espreguiçadeira. O alerta amarelo em todo o seu esplendor.

terça-feira, 15 de abril de 2008

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Enforcamos os ladrões menores e elegemos os maiores para os lugares públicos.
Esopo
All is best, though we oft doubt,
What th' unsearchable dispose
Of highest wisdom brings about,
And ever best found in the close.


Milton. Samson Agonistes.

Hoje estou chateado. As minhas desculpas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

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Imagem retirada daqui.

Here with a Loaf of Bread beneath the Bough,
A Flask of Wine, a Book of Verse - and Thou
Beside me singing in the Wilderness
And Wilderness is Paradise enow.

Omar Khayyám
Rubáiyát XI
Trad. Edward FitzGerald. 1859

sábado, 12 de abril de 2008

Visitas domiciliárias: mito e realidade

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Sir Samuel Luke Fildes: The Doctor. 1891

Noticiaram os media que os médicos de família voltam a fazer visitas domiciliárias porque vão ser pagos por isso. Alguns aspectos desta notícia disparatada foram já discutidos. Seguem alguns contributos.

Existe no nosso imaginário colectivo uma versão idílica do médico de família de outros tempos, assente na figura de João Semana e nos escritos de Fernando Namora. Sejamos claros: só a partir das Caixas de Previdência no final da década de 60 e, sobretudo, com o Serviço Médico à Periferia (pós 25 de Abril) e com a criação da carreira de Clínica Geral do Serviço Nacional de Saúde (no terreno a partir de 1982) é que passou a haver assistência médica de proximidade para a generalidade da população. Antes do 25 de Abril, aliás, a esmagadora da população nascia, crescia e morria sem nunca pôr a vista em cima de um médico, quanto mais ter visitas domiciliárias, privilégio de gente abastada das cidades e pouco mais.

As visitas domiciliárias constituem uma das ferramentas essenciais da medicina geral e familiar. Em todos os países, contudo, elas decaíram significativamente. Vários motivos contribuíram para esse declínio, nomeadamente (i) o aumento da mobilidade individual, facilitando a deslocação dos doentes, (ii) a necessidade de rentabilização do tempo dos médicos, quer em termos de eficiência quer do ponto de vista económico e (iii) o telefone, que permite a resolução de múltiplos problemas sem necessidade de um contacto face a face. Com a carreira de Clínica Geral três ou quatro gerações de médicos começaram a fazer visitas domiciliárias, inicialmente com entusiasmo, mas com um progressivo sentimento de frustração, resultante do facto de não haver qualquer mecanismo que os incentivasse a realizar essa actividade – na verdade a penalização era (e ainda hoje é) a regra. O médico de família não só não recebe um tostão por ir ver os seus doentes a casa, como todos os custos decorrentes dessa consulta são por sua conta – transportes, acidentes no caminho, etc. O que surpreende não é que se façam poucos domicílios: é que haja ainda tantos médicos de família por esse país fora que, apesar das condições desgraçadas em que tantas vezes trabalham, cerrem os dentes e não deixem sem assistência as pessoas que deles precisam em casa.

Voltarei ao tema para não ser excessivamente longo num só post.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Música de elevador

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Não concordo, F, que a versão que aqui coloquei fosse a decente. Apenas a standard, apesar de magnífica. A do elevador, essa, é gloriosa. Nunca uma revista a rasgar soou tão bem. E não voltarei a olhar para um monta-cargas do mesmo modo.

terça-feira, 8 de abril de 2008

A ópera não é um luxo para alguns

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É desmoralizador ler isto e, depois, apanhar com a descrição do que se passa no Met no Expresso deste Sábado. Eu sei que somos um país pequeno. Nada justifica, contudo, o estado actual das coisas. A ópera, a mais total de todas as artes, não é um luxo: é uma necessidade cultural imperiosa a fazer alastrar como um incêndio de Verão. Senhor Ministro da Cultura, faça o favor de se mexer!

domingo, 6 de abril de 2008

Aristóteles em pó? Não mais que de costume.

É um erro pensar que a política foi outrora a mais nobre das actividades. Pelo menos desde os tempos de Maquiavel e de Richelieu que devíamos ter perdido quaisquer ilusões a este respeito. E mesmo no tempo dos nossos venerados gregos e romanos não terá sido diferente - a faca nas costas é um expediente político bem antigo. O que se passa hoje não é mais que o que sempre aconteceu. Nada de novo, a não ser a tecnologia e a decoração ao serviço da raison d'état (ou da raison de quem melhor se safa).
Devemos, por isso, desistir? Não creio. E apesar de a tentação de reverter para o YouTube como forma de escape ser grande, a luta contra a entropia continua.

sábado, 5 de abril de 2008

Regresso a Lisboa

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Largo da Graça, Lisboa, hoje.
Feira da Ladra, S. Vicente de Fora, Miradouro e Igreja da Graça, Chiado, FNAC do Chiado, Campo de Santana, Xuventude de Galicia, Jardim do Torel. Com a S.

Esta foi uma boa manhã.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Pontes

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A nova travessia do Tejo foi anunciada com o primeiro ministro fora do país. Isto é um bom sinal. Quer dizer que construir pontes se vai tornando um lugar-comum.

O que já vai fartando são as inevitáveis entrevistas com os donos dos cafés da área bafejada pela nova construção, dizendo que é bom para o negócio e assim. A previsibilidade dá sono.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Mudança de hora

O Verão aproxima-se. Nuvens lá fora e algum frio - não se dá pelo aquecimento global por enquanto. Passear os cães hoje foi com um céu menos claro que há dois dias. Logo à tarde o regresso será com sol, o que sabe bem.

Tempo de limpar algumas teias de aranha da cabeça.

sábado, 29 de março de 2008

Estar na ponta

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Ljubljana. Junho de 2003.

Um problema-chave cá do burgo é estarmos na ponta e não percebermos o que isso significa. Nos mapas Portugal aparece sempre no meio. Na nossa cabeça a civilização são os outros, os da Europa Central. Esta discordância traduz-se no que se sabe: nostalgia do passado (em que éramos, realmente, o centro do mundo) olhar invejoso para os outros países, logo a começar por Espanha, e bota-abaixo sobre o que se faz de bom por cá. Tem o maradona muita razão.

A verdade é que dá muito jeito estar no meio. Ok, também dá problemas mas tem vantagens inegáveis. A Eslovénia tem sido periodicamente massacrada pelos seus vizinhos; agora que está tudo calmo naquelas bandas, está a dar-nos baile em toda a linha. Classificam-se, a si mesmos, "alegres como os italianos e rigorosos como os alemães". Quem anda por Ljubljana sente isso mesmo - rigor e joie de vivre (em francês e tudo). Precisamos de ser mais como os eslovenos. Mais umas companhias low cost a voar de Portugal dariam jeito. De preferência portuguesas, já agora.

domingo, 23 de março de 2008

Páscoa

Um dia auspicioso para iniciar um novo blog, pelo menos segundo a tradição cristã em que vivemos.
Olá.